terça-feira, 26 de outubro de 2010

Artigo - China reinventa a roda sim

País domina processos industriais completos, seja na indústria mecânica, eletrônica ou automobilística, entre outras.
Marcus Coester

Terminou, semana passada, mais uma edição da Canton Fair, feira multisetorial que ocorre duas vezes ao ano em Guangzhou na China, com 20 mil expositores e 200 mil visitantes. Tive a oportunidade de integrar a delegação do Sebrae-RS em visita a esta feira, que mobilizou mais de 30 pequenas empresas gaúchas, muitas pela primeira vez na Ásia. Na Canton Fair pode-se ver de tudo, desde utilidades domésticas e produtos químicos, até autopeças, ferramentas e máquinas industriais sofisticadas. É uma feira dinâmica e moderna, mesmo sendo estatal, a partir de onde se começa a entender a orquestração do governo chinês, por trás do sucesso empresarial do país, um verdadeiro tsunami em direção a todos os cantos do planeta. Foi-se o tempo em que a vantagem competitiva do país estava centrada na mão de obra barata e impostos baixos. Hoje a estratégia está pautada no empreendedorismo e na inovação tecnológica, além da evidente inteligência estatal e políticas públicas arrojadas como ponto de partida.

Desmaterializam-se duas falácias com as quais convivemos e relutamos no Brasil durante as últimas décadas: a primeira é a do livre mercado como estratégia de desenvolvimento industrial. Todos os casos recentes de programas de desenvolvimento bem-sucedidos, como China e Coreia do Sul, foram invariavelmente planejados e tutelados pelo Estado. A segunda falácia é a de não reinventar a roda. Na contramão disso, a China domina processos industriais completos, seja na indústria mecânica, eletrônica ou automobilística, entre outras. Extrapolando o conceito, reproduzem, sem ressentimentos, réplicas baratas de diversos produtos ocidentais. É claro que não se pode fazer uma comparação simplista com o Brasil, a começar pelo imenso mercado doméstico chinês, que detém 20% da população mundial. Mas enquanto sociedade é tempo para uma reflexão séria sobre a nossa notória incompetência neste campo, seja por não fazer, seja por não saber fazer política industrial. Enquanto isso não muda, vamos nos conformando no papel de visitantes e compradores na Canton Fair, assistindo o grande espetáculo do empreendedorismo chinês.

*Diretor da Fiergs/Ciergs

Fonte: Agência Sebrae de Notícias

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