quinta-feira, 14 de abril de 2011

'Para chineses, aço é quase um alimento', diz Martins, da Vale

A China produz hoje, sozinha, mais aço do que o total fabricado por todos os outros países. O desempenho, consequência de uma estratégia traçada há cinco décadas pelo líder Mao Tsé-tung (1893-1976), dá a dimensão da importância da siderurgia para a economia do país e faz com que o setor atraia grande atenção do cidadão chinês comum, segundo o diretor-executivo de Marketing, Vendas e Estratégias da Vale, José Carlos Martins.


"Não estamos falando de uma simples commodity. Para os chineses, o aço é quase como um alimento, como o arroz e o feijão são para os brasileiros", diz Martins, também encarregado das operações de ferrosos da Vale.

Maior mineradora do Brasil e segunda maior do mundo, a Vale tem se beneficiado do apetite das siderúrgicas chinesas: no ano passado, anunciou um lucro recorde (R$ 30,1 bilhões), alimentado em grande medida pelas exportações para a China de minério de ferro, principal matéria-prima do aço.

Em entrevista à BBC Brasil, Martins diz que a Vale também tem se empenhado em exportar produtos de maior valor agregado, como pediu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas cita barreiras ambientais como entraves a empreendimentos industriais.

BBC Brasil - Os preços das commodities estão em alta nos últimos anos, mas esse mercado está sujeito a oscilações, e há previsões de que o crescimento chinês possa desacelerar bruscamente com o estouro de uma bolha no setor imobiliário. A Vale considera essa hipótese?

José Carlos Martins - Às vezes as pessoas se impressionam por nuances macroeconômicas, mas isso é só espuma. A China ainda tem muita gente para passar do campo para a cidade. Se a velocidade desse processo for muito grande, vai gerar pressão inflacionária, mas o governo chinês percebeu esse fenômeno e o está controlando.

Mas não existe só a China. Há mais 3,6 bilhões de pessoas na Ásia num processo de urbanização. Mesmo que a China reduza a expansão, o fenômeno asiático continuará mantendo uma demanda forte.

BBC Brasil - Quais são as particularidades de negociar com os chineses?

Martins - A China é uma nação de 5 mil anos, e eles sempre foram grandes mercadores. Passaram por uma experiência socialista, até que o Deng Xiaoping iniciou processo de abertura. O problema deles foi só relembrar.

É um povo muito fácil de tratar, que tem uma similaridade brutal em seu comportamento com os brasileiros. Antes de fazer negócios, o chinês quer conhecê-lo, processo que normalmente inclui alguns tragos. Eles têm a percepção de que as pessoas mostram mais quem são quando bebem um pouco e estão mais abertas.

BBC Brasil - Algumas empresas brasileiras se queixaram publicamente de que parceiros ou clientes chineses tendem a querer resolver problemas diretamente com o governo brasileiro e não com o setor privado. O senhor compartilha dessa experiência?

Martins - Isso é natural numa economia de planejamento central, onde diretrizes são sempre definidas pelo governo. Acredito que, com a velocidade com que estão se desenvolvendo, mais e mais eles vão se assemelhar ao nosso sistema. Temos que administrar melhor essas tensões.

Fonte: Folha.com

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