terça-feira, 17 de maio de 2011

Ex-Palmeiras, Obina enfrenta barreiras para viver na China

Dono da camisa 10, Obina desembarcou na China como ídolo do atual campeão chinês, o Shandong Luneng.

Porém o isolamento numa cidade praticamente sem estrangeiros tem sido um duro teste para o atacante baiano e para sua família.


Já são dois meses em Jinan, uma nada cosmopolita cidade de 2 milhões de habitantes a 500 km ao sul de Pequim. Obina (ex-Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG) veio com a mulher, Luciene, e a filha de quatro anos, Sayonara.

A minúscula comunidade brasileira tem o zagueiro Renato Silva, 27, ex-São Paulo, que vive um drama pessoal: a mulher, Vanessa, está grávida e decidiu voltar ao Rio para ter o bebê, que deve nascer em julho. Ela planeja retornar sete meses depois. Será um baque para todos. A mais extrovertida é também a única que fala inglês. "Eu me sinto como o centro do grupo, a que tem de estar atenta a tudo", revelou.

A Folha acompanhou a vitória do time de Obina por 1 a 0 contra o Jiangsu, no último dia 7. O jogo foi no bem cuidado estádio da cidade. Com capacidade para 40 mil pessoas, teve um público de só 10.156 pagantes num sábado à tarde. Todos sob a forte vigilância tanto de policiais como de militares fardados.


A torcida parece gostar de Obina, artilheiro do clube neste ano, com cinco gols. Naquele dia, mesmo entrando só no segundo tempo e com uma atuação discreta, foi o único da equipe a ser homenageado com duas faixas e ter seu nome gritado pela pequena torcida organizada.

"O Obina não está gordo, ele é forte", disse o torcedor Ma Liandao, que foi ao estádio com a bandeira do Brasil, ecoando na China uma crítica recorrente ao longo da carreira do atacante de 28 anos.

Dentro de campo, as primeiras semanas foram mais difíceis. A má atuação no primeiro mês fez até surgirem rumores na imprensa local de que o jogador era na verdade um irmão de Obina.

A situação melhorou com os gols. Entre outros, anotou dois numa mesma partida do Campeonato Chinês e ainda fez um de letra pela Copa dos Campeões da Ásia.

O time, porém, está em crise. Eliminado logo na primeira fase da Copa dos Campeões asiática, principal objetivo do ano, acaba de demitir o técnico croata Branko Ivankovic, com quem Obina e Renato se comunicavam por meio de dois intérpretes: do croata ao mandarim e do mandarim ao espanhol. Não há tradutor para o português.

"O tradutor é apenas na hora de falar com o treinador", diz Obina. "Eu não sei nem qual é a posição do Shandong no campeonato [está em oitavo], não dá pra ver a tabela nos jornais."

"A tradução muitas vezes é ruim", conta Renato. "Uma vez o intérprete me disse: 'Você tem de cabecear'".

Fora do clube, a barreira da língua é ainda maior. Para ir às compras, as mulheres vão apenas com um motorista, que não fala inglês.

"Somos mestres em mímica", diz Vanessa. "Quando vou pedir carne, falo 'muu', e 'no au-au'", conta. Todos moram em apartamentos do próprio clube, num prédio longe de áreas comerciais, mas ao lado do centro de treinamento.

Sem canais em português e com uma TV a cabo que quase nunca funciona, a diversão de Obina e Renato tem sido o vídeo game XBox, que jogam em linha com Ricardo, jogador português.
A comida é um capítulo à parte. "Eu, que sou baiano, me surpreendi com a pimenta. A comida deles é mais quente", falou Obina.

Depois de uma frustrada incursão a uma churrascaria chinesa, onde havia até couve-flor no espeto, o grupo só come em três restaurantes da cidade: McDonald's, Pizza Hut e um de comida italiana. A maior parte das refeições é feita em casa.

Obina e Renato, no entanto, já são até veteranos se comparados ao atacante neozelandês Shane Smeltz. Contratado em julho do ano passado, ele se apavorou ao conhecer Jinan. Aguentou apenas cinco dias na cidade.

Fonte: Folha.com

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