quinta-feira, 7 de julho de 2011

Artigo: Inovação na China

Por Suzana Bandeira:

A China já foi o centro de inovação mundial. Armas, bússolas, papel, pólvora e impressão foram criados há mais de mil anos. O Ocidente assimilou e aperfeiçoou essas invenções e as usou como a base de séculos de desenvolvimento e dominação tecnológica.

Desde as reformas de Deng Xiaoping em 1978, a China se vale de determinadas condições, como mão de obra farta, barata e ávida por melhoria de vida e trabalho; atrai as multinacionais com seu mercado interno; flexibiliza sua economia, gera trocas e aprendizado. Constrói um modelo econômico de difícil denominação, é "socialismo de mercado" ou "capitalismo de Estado"?

A China produz quase tudo sob diversas modalidades e arranjos associativos. Torna-se, em 2010, a maior exportadora mundial, bem como o segundo maior importador, atrás dos Estados Unidos. Torna-se o maior parceiro comercial do Brasil. Muito de sua importação corresponde a produtos de alto valor agregado.

O governo chinês parece ter noção de que o passo dado com as reformas, que resultou em um gigantesco parque industrial, é tão somente uma transição para a competição mundial em outro nível. A China quer deixar de ser a fábrica, para passar a ser o laboratório do mundo. Nos últimos dez anos, os dirigentes do país têm apontado a inovação como meio de reposicionar a China no mundo e sustentar seu desenvolvimento, tendo em vista o preço que esse crescimento tem cobrado: desigualdade, poluição, pobreza no campo, inflação e degradação ambiental.

A crise financeira mundial reforçou a necessidade de a China gerar alternativas ao seu modelo baseado na exportação e apostar no desenvolvimento do mercado interno. É com a escala de seu mercado que a China segue atraindo os investimentos estrangeiros. Mas as leis de defesa da propriedade intelectual na China possuem fiscalização precária. As empresas estrangeiras, ao transferir seu know-how, se arriscam em desenvolver concorrentes chinesas.

É importante fazer uma distinção entre a pirataria e a assimilação de tecnologias com aprovação estatal. O governo chinês tenta combater a primeira e desenvolver a segunda. Mas qual o limite ao crescimento quando a inovação de país tem origem externa? Se a inovação depende de um aparato regulatório, de acesso ao crédito, de características de liderança empresarial, qualificação de mão de obra e de certo grau de liberdade, como avaliar o impacto da "mão" do Estado autoritário sobre o ambiente econômico institucional?

Outras questões são postas: O Brasil tem algo a aprender com isso? A China é nosso concorrente ou parceiro? Como as empresas brasileiras devem se preparar para enfrentar esse fenômeno irreversível? As questões que envolvem a China representam uma oportunidade única para que o Brasil repense seu lugar no mundo.

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