terça-feira, 30 de agosto de 2011

Artista Ai Weiwei lança 1º ataque contra a China após detenção

O artista e dissidente chinês Ai Weiwei usou um artigo jornalístico para lançar seu primeiro ataque contra o governo chinês desde sua libertação, após 81 dias de detenção nas quais pactuou com as autoridades seu silêncio em troca de sua liberdade.


"Não sei se as autoridades vão fazer alguma coisa contra mim", afirmou Ai à agência Efe por telefone. "Eu não diria que (o artigo) não é uma crítica, mas se trata mais da minha opinião sobre a cidade. Continuo sofrendo restrições, como publicar no Twitter ou dar entrevistas à imprensa".

Em seu artigo de opinião, publicado em uma coluna da revista "Newsweek", Ai acusa o regime chinês de negar aos cidadãos "seus direitos básicos".

"Verão escolas de emigrantes que fecham. Verão hospitais nos quais suturam os pacientes, e quando descobrem que estes não têm dinheiro, tiram os pontos. É uma cidade de violência", escreveu o artista, de 54 anos, ao se referir a Pequim.

Ai foi libertado em junho, mas pesam sobre ele acusações de evasão de impostos que tanto o artista como sua família negam, ao considerá-los uma desculpa para silenciar suas opiniões.

Segundo seus familiares, o criador do Ninho do Pássaro, uma das principais construções das Olimpíadas de Pequim 2008, obteve sua liberdade em troca de manter silêncio na internet e de não conceder entrevistas para falar sobre sua prisão.

A família explicou à Efe em junho que Ai tinha sofrido torturas psicológicas durante os três meses de clausura, já que dois guardas o olhavam fixamente durante 24 horas por dia, inclusive durante o banho, e esteve recluso em um pequeno espaço no qual só havia uma cama.

"O pior de Pequim é que nunca se pode confiar em seu sistema judiciário. Sem confiança, não se pode identificar nada: é como uma tempestade de areia. Tudo muda constantemente segundo a vontade de outro, de quem está no poder", continuou em sua coluna.

CRÍTICAS

Filho do venerado poeta revolucionário Ai Qing, o artista manifestou em sua coluna que não se sente identificado com Pequim.

"Não se consegue respostas das autoridades, minha esposa esteve escrevendo pedidos a cada dia, fazendo ligações à delegacia a cada dia. Apenas para saber onde estava seu marido. Não há documentos, não há informação", acrescentou.

Ai ressaltou que em Pequim "você se encontra totalmente isolado" porque a memória da cidade foi totalmente apagada, "e você não sabe quanto tempo vai estar aqui, mas sabe com certeza que podem fazer algo contra sua pessoa".

O artista chinês mais famoso no mundo e feroz crítico do regime comunista até sua detenção concluiu sua coluna traçando um paralelo entre Pequim e "O Castelo", de Franz Kafka, ao alegar que "Pequim é um pesadelo. Um constante pesadelo".

Com o artigo, Ai volta a desafiar o pacto de silêncio que mantém com o regime depois que, no último dia 9 de agosto, denunciou em seu Twitter as prisões e maus tratos que sofreram outros dissidentes.

Sua detenção foi a de maior repercussão entre as centenas que o regime comunista chinês realiza desde fevereiro, em uma campanha de ameaças, assédio, prisões e torturas contra intelectuais, advogados e artistas para evitar em seu território algo parecido com a "Primavera Árabe".

Fonte: EFE

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