quarta-feira, 7 de julho de 2010

Na China, Brasil vai além da commodity

A China exporta todo tipo de mercadorias para o Brasil, das bugigangas encontradas no comércio popular ao aço e maquinário que atormentam os concorrentes nacionais. Mas também há empresas que fazem o caminho inverso e vendem produtos brasileiros para os chineses, não apenas commodities, como minério de ferro e soja, mas itens de alto valor agregado.



Os dados do Ministério do Desenvolvimento mostram a evolução da participação dos itens manufaturados e semimanufaturados de 27,2% (2008) para 28,3% (2009). O aumento é pequeno, mas ocorreu depois de anos de avanço das exportações de produtos básicos.

A Positivo Informática é um caso de empresa brasileira que foi além das commodities ao decidir entrar no mercado chinês. Há três anos, a fabricante paranaense vende suas mesas educacionais de ensino de inglês para crianças.

Segundo Elaine Guetter, diretora de operações da Positivo, o potencial chinês é mais do que promissor. "A importância de aprender inglês no momento em que a economia se encontra é enorme. Tenho certeza de que é só o começo para a Positivo, porque tudo na China é absurdamente grande", avalia a executiva da empresa de tecnologia.

Até abrir o mercado chinês, explica Elaine, foram necessárias muitas viagens e um verdadeiro trabalho de investigação. "Contratamos um chinês que nos ajudou a garimpar o mercado e a verificar se os possíveis parceiros naquele país tinham condições de levar o projeto adiante", comenta. Como a mesa é para o ensino de inglês, não foi necessário fazer adaptações para o mandarim, apenas o manual técnico.

O distribuidor chinês dos produtos da Positivo também se tornou dono de escolas de ensino infantil de inglês, os E-Blocks Centers. Ele tem 14 escolas e ensina a 2.200 chineses com o uso das mesas.

Embarque de tecnologia. A Light Infocon, de Campina Grande (PB), especializada em softwares para bancos de dados, vende para o país asiático desde a metade da década de 90. "A falta de conhecimento das empresas brasileiras sobre aquele mercado é o que mais dificulta a atuação", conta Alexandre Moura, diretor de marketing e presidente do conselho da empresa.

A entrada da Light Infocon na China aconteceu por meio da parceria com um instituto estatal de softwares que faz pesquisas na área acadêmica. Com o avanço das vendas, a empresa optou por ter um representante local. A única adaptação foi no idioma e em algumas cores do programa. "O preto, por exemplo, não é uma cor de que os chineses gostam muito. Então a gente substituiu por outra", explica Moura.

Hoje, 20% das exportações da Light Infocon são para a China. Elas só ficam atrás do volume embarcado para Portugal e Espanha. "Procuramos aliar a troca de conhecimento técnico para avançar naquele mercado. Não dá para avançar sem um apoio local e uma boa rede de relacionamentos", ensina.

Apesar do grande volume de importação de máquinas chinesas, há empresas brasileiras que conseguem vender para o país asiático. É o caso da Grob do Brasil, de origem alemã, cuja subsidiária brasileira tem contratos com clientes da China desde o fim da década de 90, quando a automação nas montadoras ganhou mais fôlego. A companhia é especializada em máquinas-ferramenta para fábricas de motores. "Os chineses adoram a tecnologia alemã, e é isso que nos abre as portas. Mas, com os planos da matriz de construir uma fábrica na China, nossas vendas com o tempo devem ser substituídas pela produção local", explica Christian Müller.

Diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca acredita que haja muitas oportunidades para as empresas brasileiras no mercado com maior potencial de consumo do mundo. "Temos conhecimento e bons produtos em várias áreas, como a de equipamentos médicos e odontológicos e de alimentos processados. Mas é bom lembrar que em muitos casos as exportações também estão atreladas a exigências do governo chinês de que a empresa brasileira faça investimentos naquele mercado", observa.

Alessandro Teixeira, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), avalia que as empresas brasileiras não devem ter como estratégia inicial exportar grandes volumes, mas entender como é o mercado da China e quais são as melhores oportunidades.

"Agora, por exemplo, é possível perceber que a classe média alta, formada por cerca de 200 milhões de pessoas, começa a desejar o consumo de marcas para se diferenciar dos outros. E o Brasil, com seu conceito de modernidade, pode ter uma chance de encontrar seu espaço com a moda, por exemplo", opina Teixeira.

Marca. A lista de empresas brasileiras na China só deve crescer. A Alpargatas, fabricante das Havaianas, hoje vende suas sandálias esporadicamente para o país. Mas, para explorar melhor a marca num mercado de 1,4 bilhão de pessoas, já começa a estudar a possibilidade de abrir uma loja-conceito das Havaianas na China.

A Ci&T fez uma joint venture há um ano com uma companhia japonesa para ter acesso aos consumidores asiáticos. A China ainda não é cliente, mas o executivo Leonardo Mattiazzi espera que ainda neste ano os primeiros contratos sejam assinados. "Para os chineses, é fundamental mostrar a capacidade de atender a um cliente de forma global."

Fonte: O Estado de S.P.

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